MADRAGOA

 

 

#2 – March 2017

Filipa Oliveira on Luís Lázaro Matos' Voyage to Papua New Guinea

 

 

Luís Lázaro Matos Voyage to Papua New Guinea 2014 installation view

 

 

EN

 

 

There are two axes that direct the work of Luís Lázaro Matos: architecture and identity. His practice is part of a conceptual and political line that seeks to question the dominant presuppositions that characterized the concept of identity in a generic and circumscribed way. Through the appropriation and de-sacralisation of architectural paradigms founders of the history of that discipline, Lázaro Matos attempts to propose unheard-of and fantasized architectural genealogies that respond to new forms of inhabiting and consequently proposes new models of identity.

 

This methodology can be attested in a singular way in the series of drawings Voyage to Papua New Guinea (2013). This set of works has as its starting point the house where he grew up in Évora, in the iconic Bairro da Malagueira. Designed by Álvaro Siza Vieira after the 25th of April revolution, the Malagueira was built on expropriated land with the intention of transforming housing conditions and modernizing the architectural lines of that city. The idea was to build a new community - 1200 houses were built over a period of 20 years - that would eventually be owned by residents in a cooperative organization. Siza designed a new urban fabric based on the repetition and accumulation of elemental white cubic forms. The aesthetics of Siza Vieira, of which this project is a typical example, is governed by the rational containment of the decorative and the ornament, choosing an architectural grammar affiliated in the thought of the Austrian architect Adolf Loos in which pragmatism, the functionality and the social order reign. In his famous essay "Ornament and Crime" (1908), Loos associates progress with a radical aesthetic purity, considering ornament as immoral and degenerate. In that essay, Loos gives as an example the body tattoos of the tribes of Papua New Guinea, suggesting that the ornamentation of the body symbolizes a low civilizational level.

 

Lázaro de Matos moves Siza’s house - functional, neutral and rational - to Papua New Guinea and transforms it into an acclamation to ornament, fantasy and excess.

 

Drawn on yellow vegetable paper, making reference to an aged architect's drawing, the house grows vertically through stairs and platforms, appearing on a first level a strange body with a profile head, and in a second, still higher plane, an airship that resembles a courgette with wings and tails. The house sits on a small plateau set in the middle of a mountainous formation. The geographical context is repeated in each one of the six drawings with small differences, just as the structure of the house is repeated. In a satirical and critical attitude, Lázaro Matos makes a cosmetic operation in each version of the house through an exuberant and excessive 'decoration', which combines a pastiche of appropriate elements from different times and moments in the history of architecture and decorative arts.

 

In an imaginary relocation of the house to a wild fictional setting (is this the landscape of Papua New Guinea?), these drawings represent the complexification of a rational architectural form, they speak of lightness and exude exuberance.

 

Central to the work of this artist is the concept of 'Heteropia' of the French philosopher Michel Foucault - a different space, displaced, incoherent and disrespectful of the established order. The works of Lázaro de Matos thus exist as impossible, intense and contradictory spaces that challenge the norm, that dissect the regent discourse and that fantasize the possibility of a disturbing, iconoclastic and singular future. *

 

Filipa Oliveira

 

Filipa Oliveira is the artistic director of Fundação Eugenio de Almeida, Évora. She is based between Évora and Lisbon.

 

*a version of the the text above was previously published on the catalogue “Premios Novos Artistas Fundacão EDP”, 2014

 

 

PT

 

 

Há dois eixos que dirigem o trabalho de Luís Lázaro Matos: a arquitetura e a identidade. A sua prática insere-se dentro de uma linha conceptual e política que procura questionar os pressupostos dominantes que caracterizaram de forma genérica e circunscrita o conceito de identidade. Através da apropriação e dessacralização de paradigmas da arquitetura fundadores da história daquela disciplina, Lázaro Matos intenta propor inauditas e fantasiadas genealogias arquitetónicas que respondem a novas formas de habitar e por consequência propõe novos modelos identitários.

 

Esta metodologia pode ser atestada de forma singular na série de desenhos Viagem para a Papua Nova Guiné (2013). Este conjunto de trabalhos tem como ponto de partida a casa onde cresceu em Évora, no icónico Bairro da Malagueira. Projetado por Álvaro Siza Vieira no pós-25 de abril, a Malagueira foi construída em terrenos expropriado com a intenção de transformar as condições de habitação e modernizar as linhas arquitetónicas daquela cidade. A ideia era construir uma nova comunidade – 1200 casas edificadas num espaço de 20 anos -, que eventualmente seriam propriedade dos residentes numa organização cooperativa. Siza desenhou um novo tecido urbano assente na repetição e acumulação de formas cúbicas elementares brancas. A estética de Siza Vieira, como é exemplo típico este projeto, rege-se pela racional contenção do decorativo e do ornamento, elegendo uma gramática arquitetónica filiada no pensamento do arquiteto austríaco Adolf Loos na qual reina o pragmatismo, a funcionalidade e a ordem social. No seu famoso ensaio “Ornamento e Crime” (1908), Loos associa progresso a uma pureza estética radical, considerando o ornamento como algo imoral e degenerado. No citado ensaio, Loos dá como exemplo as tatuagens corporais das tribos da Papua Nova Guiné, sugerindo que a ornamentação do corpo simboliza um baixo grau civilizacional.

 

Lázaro de Matos desloca a casa do Siza – funcional, neutra e racional - para a Papua Nova Guiné e transforma-a numa apologia ao ornamento, à fantasia e ao excesso.

 

Desenhada sobre papel vegetal amarelo, fazendo referência a um esquiço de arquiteto envelhecido, a casa cresce verticalmente através de escadas e plataformas, figurando num primeiro nível um estranho corpo com uma cabeça de perfil, e num segundo plano, ainda mais alto, um dirigível que se assemelha a uma curgete com asas e caudas. A casa está assente num pequeno planalto inserido no meio de uma formação montanhosa. O contexto geográfico repete-se em cada um dos 6 desenhos com pequenas diferenças, assim como se repete a estrutura da casa. Numa atitude satírica e crítica, Lázaro Matos faz uma operação de cosmética em cada versão da casa através de uma ‘decoração’ exuberante e excessiva, a qual conjuga um pastiche de elementos apropriados de diferentes épocas e momentos da história da arquitetura e das artes decorativas.

 

Numa deslocação fantasiada da casa para um cenário ficcional selvagem (será assim a paisagem da Papua Nova Guiné?), estes desenhos representam a complexificação de uma forma arquitetónica racional, falam de leveza e transpiram exuberância.

 

Central ao trabalho deste artista está o conceito de ‘Heteropia’ do filosofo francês Michel Foucault - um espaço outro, deslocado, incoerente e desrespeitador da ordem estabelecida. As obras de Lázaro de Matos existem assim enquanto espaços impossíveis, intensos e contraditórios que contestam a norma, que dissecam o discurso regente e que fantasiam a possibilidade de um futuro inquietante, iconoclasta e singular. *

 

Filipa Oliveira

 

Filipa Oliveira e a diretora artistica da Fundação Eugenio de Almeida, Évora. Vive entre Évora e Lisboa.

 

* uma versão de este texto foi publicado sobre o catalogo “Premios Novos Artistas Fundacão EDP”, 2014

We use cookies to optimize our website and services.Read more
This website uses Google Analytics (GA4) as a third-party analytical cookie in order to analyse users’ browsing and to produce statistics on visits; the IP address is not “in clear” text, this cookie is thus deemed analogue to technical cookies and does not require the users’ consent.
Accept
Decline