MADRAGOA

 

 

#1 – August 2016 Estelle Nabeyrat on Renato Leotta's Zeit und Wasser

 

 

 

 

 

 

Renato Leotta Zeit und Wasser 2016 Gelatine silver print 40 x 30 cm

 

 

EN

 

 

Acqua Viva

 

Yes, this is life seen by life. But suddenly I forget how to capture whatever is happening. I don't know how to capture whatever exists except by living here each thing that arises and no matter what it is. I who trot nervously and only reality delimits me.

 

If one could see the way it feels to immerse hands in water, one could get a sense of how three surfaces can, surprisingly, get along together: the skin, the sea, the paper. We would trust our feelings and hope to exceed our limits. We would chase the artist; we would flirt with exhibition spaces; and as much as we could, we would find a way to approach the magic of those aventuras.

And the Real perceived would fill the empty shapes of our perception. We would trust the senses of this other. I would let mine into his arms. I might look for his veins to get a glimpse of his truth. I swear he probably looked for the miraculous. Yet no one knows how to cross the surface and we look stiff in our muted circles.

 

This instant is. You who read me are.

 

On a winter time spent on an island, he turned the sea at night into a camera obscura. After hundreds of attempts, he found the right angle of moonlight to catch pictures from the ebb and flow of the water on a photosensitive paper. This is how time and water made « Zeit und Wasser », two photographs which came out of the sea to join the endurance of daylight. And Nature-culture found a place to settle. Objects as images traced their ways through the high-added value niches on earth. They brought here their tactile attraction: terracotta sculptures, sand cast, blue fabric stripes and maybe a slight smell of seasalt. We thought we could lay as if we were on the beach but our attention was caught. Presiding over the display – malevitchian modus operandi of efficiency – «Zeit und Wasser» contrast with their density as if they contained potential life extensions.

 

I don't want to have the terrible limitation of those who live from what can make sense. Not I: I want an invented truth.

 

It felt like his hands were addressing us their palms. And one could see a picture depicting the surface of his skin. Mutated photosensitivity. We looked over the iconic principles like he leaned over the water. We caught the metaphorical way of relating to elements. At night, he confided his wishes and grasped an excerpt of sensual turbulences, aventura sem fim... Estelle Nabeyrat

 

Excerpt from «Acqua Viva», Clarice Lispector, Modern Classics, Penguin, London, 2014 , p 23, 29, p 15.

 

Estelle Nabeyrat is a free-lance curator and art critic based in Paris and Lisbon. She runs a project called Πνεῦμα

 

 

PT

 

Acqua Viva

 

Sim, esta é a vida vista pela vida. Mas de repente esqueço-me de capturar o que acontece, não sei capturar o que existe, senão vivendo aqui cada coisa que surgir e não importa o quê. Eu, que troto nervosa e só a realidade me delimita.

 

Se alguém pudesse ver a sensação de mergulhar as mãos em água, poderia ter uma noção de como três superfícies podem, surpreendentemente, dar-se bem: a pele, o mar, o papel. Confiaríamos nos nossos sentimentos esperaríamos ultrapassar os nossos limites. Perseguiríamos o artista; namoraríamos os espaços de exposição; e, tanto quanto pudéssemos, tentaríamos encontrar uma maneira de abordar a magia dessas aventuras. E o Real percebido iria encher as formas vazias de nossa percepção. Iríamos confiar nos sentidos deste outro. Eu deixaria os meus em seus braços. Poderia procurar as suas veias para obter um vislumbre da sua verdade. Juro que ele provavelmente procurou o milagroso. No entanto, ninguém sabe como atravessar a superfície e olhamos com rigidez nos nossos círculos mudos.

 

Este instante é. Você que me lê são.

 

No Inverno, quando passou tempo numa ilha, durante a noite ele transformou o mar em uma câmara escura. Depois de centenas de tentativas, encontrou o ângulo certo do luar para capturar imagens a partir do fluxo e refluxo da água num papel fotossensível. Foi assim que o tempo e água fizeram «Zeit und Wasser», duas fotografias que saíram do mar para se juntarem à resistência da luz do dia. E Natureza-cultura encontrou um lugar para se acomodar. Objetos como imagens traçaram os seus caminhos através de nichos de alto valor acrescentado na terra. Trouxeram a sua atração táctil: esculturas em barro, moldes da areia, tecido azul e talvez um leve cheiro de sal marinho. Pensamos que nos podemos deitar como se estivéssemos na praia, mas a nossa atenção foi desviada. Dominando a exposição – modus operandi malevichiano de eficiência – «Zeit und Wasser» contrasta com a sua densidade como se contivessem potenciais extensões de vida.

 

Eu não quero ter a terrível limitação de quem vive do que pode fazer sentido. Eu não: eu quero uma verdade inventada.

 

Parecia que as suas mãos nos estavam encaminhando as suas palmas. E podia-se ver uma imagem que descrevia a superfície da sua pele. Fotossensibilidade mutada. Olhamos os princípios icónicos da mesma forma como ele se debruçou sobre a água. Apercebemo-nos da forma metafórica de se relacionar com os elementos. À noite, ele confidenciou os seus desejos e agarrou um excerto de turbulências sensuais, aventura sem fim ... Estelle Nabeyrat

 

Excertos de « Acqua Viva », Clarice Lispector, Modern Classics, Penguin, London, 2014 , p 23, 29, p 15.

 

Estelle Nabeyrat é curadora e crítica de arte, vive entre Paris e Lisboa. Dirige o projecto Πνεῦμα

We use cookies to optimize our website and services.Read more
This website uses Google Analytics (GA4) as a third-party analytical cookie in order to analyse users’ browsing and to produce statistics on visits; the IP address is not “in clear” text, this cookie is thus deemed analogue to technical cookies and does not require the users’ consent.
Accept
Decline