MADRAGOA

#4 – July 2018

Alejandro Alonso Díaz on Belén Uriel's

Descanso.

 

Belén Uriel, Descanso, 2018, bullseye glass and powder coated iron, 75 x 33 x 33 cm, unique

 

 

EN

 

 

 

You are tired

 

Don’t worry, nobody’s looking.

 

Sit down and take your time. Feel the soft surface running through your skin.

 

That’s pleasure. That’s your body’s response to this object.

 

You are tired.

 

These contours, materials and colors.

 

It’s not so comfortable, sort of harsh actually. That’s your position struggling with the anatomic-shaped chair.

 

You are tired.

 

That’s the crystal arms and supple legs of the chair soaking up your flesh.

 

The imposition of comfort arranged through your own anatomy.

 

If a form could deliver comfort, does it mean it could also bring restness? I can think of many occasions on which an object has made me feel suddenly comfortable –perfectly folding a clean t-shirt, or coming across the other side of a transparent glass–, but I can’t think of that many occasions when an object has caused on me a feeling of rest.

 

You are tired.

 

Partial and wholly ambiguous, the notion of rest is a central subject in Belén Uriel's work. Descanso, one of the works from her last sculptural series, pivots toward many of those things that an object could invoke: the functional, the liveliness, the domestic and the personal joy of its use, a sophisticated language full of subtle meanings that move away from literary explications. The bold gesture of using a camping chair can be read as the artist’s comment on the design of this particularly public body. Moving from private garages to public spaces and parks, this kind of mutable, moving furniture is somehow ubiquitous—a fact that Uriel embraces with the seductive and soft modelling of Descanso. The chair, dismantled and rearranged, includes the traces left by its use and consumption, and is envisioned as a symbol of modern commodities. In her working process she includes influences from daily life, such as shop’s displays and found architectural elements, appropriating the formal vocabulary of functionalism, and charging these seemingly practical forms and materials with connotations of the emancipation of sculpture and volumetric identity. Like many examples of 20th century’s furniture and architecture, Descanso stands as a representation of the failure of Modernism’s idealism.

 

Body desires have taken the idea of rest to a whole new level, and consumerism has turned functionality into a vast world of structures, practicality and logistics that continues to proliferate, and sparks our visceral desire to melt with the materiality of objects. Through a consideration of furniture as anatomy, and conversely, thinking of the body as a construction, Uriel is collapsing one into the other. The free-standing sculpture contains a fleshy materiality of both organic and artificial character. An ambiguity upon the body is suggested through a dismembered articulation of volume, anatomy and viscosity. The human presence here exists in fragments and is subjected to various regimes of fluidity and fixation, ranging from glass techniques to the semantics of functionality and stability. As often in her sculptures, Descanso is another instance grounded in real objects, that turns them into forms leaving the trace of their processes, evoking the human figure and its use. A material history of presence.

 

Alejandro Alonso Díaz is an independent curator and founder of fluent. He lives and works between Barcelona and Santander.

 

 

PT

 

 

Estás cansado

 

Não te preocupes, ninguém está a olhar.

 

Senta-te e não tenhas pressa. Sente a superfície suave a percorrer a tua pele.

 

Isso é prazer. Essa é a resposta do teu corpo a este objecto.

 

Estás cansado.

 

Estes contornos, materiais e cores.

 

Não é assim tão confortável. Na verdade, é até um pouco incómodo. Essa é a tua posição a debater-se com a cadeira de formato anatómico.

 

Estás cansado.

 

Isso são os braços de cristal e as pernas maleáveis da cadeira a absorver o teu corpo.

 

A imposição do conforto levada a cabo pela tua própria anatomia.

 

Se uma forma pode oferecer conforto, significará também que possa proporcionar descanso? Consigo lembrar-me de bastantes situações em que um objecto me provocou uma súbita sensação de conforto —ao dobrar na perfeição uma t-shirt lavada ou ao deparar-me com o outro lado de um copo transparente—, mas são poucas as ocasiões em que um objecto me proporcionou uma sensação de descanso.

 

Estás cansado.

 

Parcial e completamente ambígua, a noção de descanso é um tema central ao trabalho de Belén Uriel. Descanso, uma das peças da sua mais recente série de esculturas, gira em torno de muitas daquelas coisas que um objecto pode invocar: a funcionalidade, a vivacidade, o prazer doméstico e pessoal na sua utilização, uma linguagem sofisticada cheia de sentidos subtis que se afastam das explicações literárias. O gesto ousado de utilizar uma cadeira de campismo pode ser visto como o comentário da artista sobre o design deste corpo particularmente público. Passando das garagens privadas para os parques e espaços públicos, esta espécie de mobiliário móvel e mutável é de certo modo omnipresente—facto que Uriel adopta através da modelação suave e sedutora de Descanso. A cadeira, desmontada e reconstruída, inclui as marcas deixadas pelo seu uso e é vista como um símbolo dos bens de consumo modernos. No seu processo de trabalho, Uriel inclui influências da vida quotidiana, como montras de lojas e elementos arquitectónicos encontrados, apropriando-se do vocabulário formal do funcionalismo e dotando estes materiais e formas aparentemente práticos de conotações sobre a emancipação da escultura e da identidade volumétrica. Como muitos exemplos da arquitectura e do mobiliário do século XX, Descanso funciona como uma representação do fracasso do idealismo modernista.

 

Os desejos do corpo levaram a ideia de descanso a um nível completamente novo e o consumismo transformou a funcionalidade num vasto mundo de estruturas, praticabilidade e logística que continua a proliferar e acende o nosso desejo visceral de nos fundirmos com a materialidade dos objectos. Através de uma reflexão sobre o mobiliário enquanto anatomia e, por outro lado, pensando o corpo como uma construção, Uriel funde estes dois aspectos. A escultura contém uma materialidade carnal de um carácter que é tanto orgânico como artificial. Uma ambiguidade sobre o corpo é sugerida através de uma articulação fragmentada de volumes, anatomia e viscosidade. Aqui, a presença humana existe em fragmentos e é sujeita a vários regimes de fluidez e fixação, que vão de técnicas de trabalho em vidro à semântica da funcionalidade e da estabilidade. Como acontece frequentemente com as suas esculturas, Descanso é outro exemplo ancorado em objectos reais que os transforma em formas que deixam vestígios dos seus processos, evocando a figura humana e o seu uso. Uma história material da presença.

 

Alejandro Alonso Díaz é curador independente e fundador da fluent. Vive e trabalha entre Barcelona e Santander.

We use cookies to optimize our website and services.Read more
This website uses Google Analytics (GA4) as a third-party analytical cookie in order to analyse users’ browsing and to produce statistics on visits; the IP address is not “in clear” text, this cookie is thus deemed analogue to technical cookies and does not require the users’ consent.
Accept
Decline